33 Primaveras: Reflexões Sobre a Vida, Amor e o Poder de se Reinventar
Eu sempre achei que a vida seria previsível. Não de um jeito chato, mas de um jeito que você sente que está no controle, sabe? Achei que estava trilhando o caminho certo: casada por 10 anos, tendo meu marido ‘ao lado’ durante a faculdade, e então, finalmente, nosso próximo capítulo seria a tão esperada chegada da nossa filha. Mas a vida, como sempre, tem uma maneira engraçada — e às vezes cruel — de nos mostrar que não temos tanto controle assim.
Memórias do meu primeiro ano na Bolívia! Na foto, Amanda e Lisye. Meu porto seguro, longe da família! (sim, foram minhas últimas fotos tiradas com máquina).
No meu último ano de faculdade, eu descobri que estava grávida. Foi um daqueles momentos em que você imagina que tudo vai se encaixar, que esse seria o nosso "final feliz". Só que a realidade não poderia ter sido mais diferente. Ao invés de nos unir, como eu imaginei que aconteceria, aquela gravidez trouxe à tona segredos que mudariam minha vida para sempre. Ele me disse que, na verdade, tinha encontrado o verdadeiro amor da vida dele — e não, esse amor não era eu. Ele estava com outra mulher há três anos, e que agora se sentia preso no casamento por causa de nossa filha que ainda nem havia nascido.
Naquele momento, eu senti o chão sumir. Como você processa algo assim? Como é possível lidar com a traição de alguém que você confiava cegamente, que você imaginava que estaria ao seu lado para sempre? As coisas pioraram quando ele começou a se tornar mais agressivo, tanto em palavras quanto em atitudes. Parecia que a gravidez, ao invés de ser um presente para nós dois, era o peso que ele usava como justificativa para o seu descontentamento. E ali, naquele caos de emoções, eu percebi que estava sozinha. Mais sozinha do que jamais imaginei estar.
Então, veio o lockdown. Eu tive minha filha pouco antes de o mundo inteiro parar. Com a pandemia, não havia distração. Era só eu, minha filha, e aquele silêncio opressor de um casamento que havia terminado bem antes de qualquer papel ser assinado. Eu me agarrei à minha filha como se ela fosse a única âncora que me mantinha de pé. E talvez fosse. Cuidar dela se tornou minha missão. Eu chorava enquanto ela dormia, e sorria enquanto ela acordava. Porque eu sabia que, no fundo, precisava ser forte por ela.
Perdi minha avó um ano depois. Ela sempre foi o meu porto seguro, a pessoa que, além da minha mãe, me ensinou sobre resiliência e amor incondicional. A dor de perder alguém que sempre acreditou em mim, que sempre esteve ao meu lado, foi um golpe profundo. Eu sentia que tudo ao meu redor estava desmoronando, e foi naquele ponto de ruptura que tomei uma decisão: eu precisava começar de novo. Pedi o divórcio. Não havia mais como seguir em frente carregando o peso de um relacionamento que havia morrido há muito tempo.
Recomeçar nunca é fácil, especialmente quando você está lidando com as cicatrizes de uma traição, a responsabilidade de ser mãe, a realização de ter virado estatística e sobrevivido a uma relacionamento abusivo, e o luto por uma perda tão significativa. Mas eu sabia que não havia outra opção. Eu precisava me reinventar. E essa reinvenção veio de dentro para fora. Foi dolorosa, foi solitária, mas também foi libertadora. Eu comecei a me reconectar comigo mesma, a descobrir uma força que eu nem sabia que existia.
Agora, prestes a completar 33 anos, eu olho para tudo o que passei e me sinto mais forte do que nunca. Eu sei que não sou a mesma pessoa de antes, e, sinceramente, sou grata por isso. Aprendi que, às vezes, os finais são necessários para que novos começos possam florescer. Que às vezes a vida nos leva por caminhos que nunca imaginamos, mas que, no fim, nos tornam quem realmente deveríamos ser.
Hoje, olho para minha filha e vejo esperança. Ela me ensinou o verdadeiro significado do amor incondicional, e é por ela que eu sigo em frente, mais forte, mais sábia. Eu não sei o que os próximos anos vão trazer, mas uma coisa eu sei: estou pronta. Pronta para continuar me reinventando, pronta para aceitar que a vida nunca será perfeita, mas que pode ser linda, mesmo com todas as suas imperfeições. Pronta para receber as novas bençãos preparadas para nós.
Se você, leitora, está lendo isso e sentindo o peso do mundo nas suas costas, eu te digo: a dor não dura para sempre. Você vai encontrar uma maneira de se reconstruir. Vai aprender que, por mais difícil que seja, você pode se reinventar e descobrir uma força que jamais imaginou ter. A vida é cheia de altos e baixos, mas também é cheia de segundas chances. Aos quase 33, eu escolho viver essas segundas chances com coragem, com amor, e, acima de tudo, com esperança.
E você? Está pronta para o seu próximo capítulo?